Como seus pais viajam muito, Eliana muitas vezes tem a casa só para ela. É quando ela se dedica a sua paixão, ver filmes de terror. Ela já baixou centenas de filmes de sites piratas da internet, de mais de cinquenta países diferentes. Ela tem um programa que cria legendas para vídeos de várias línguas, então ela não tem problemas para entender as histórias.
Ela poderia ver os filmes com os pais em casa, se não fosse um problema que ela prefere evitar que as pessoas saibam: Eliana faz xixi nas calças quando vê filmes de terror.
Em um momento, sempre tem uma cena de suspense. O personagem pode ignorar a terrível ameaça, mas o espectador não: Eliana sabe que o monstro (vampiro, lobisomem, demônio, feiticeira, fantasma, alienígena, serial killer, etc.) está atrás da porta, ou da árvore, ou no armário, ou no corredor, em algum lugar de onde espreita sua vítima, esperando ela se aproximar da armadilha, para então cravar os dentes no pescoço, ou descer um machado em sua cabeça, ou enfiar as garras em sua barriga, ou arrancar seu braço com uma forte puxada, ou cair em cima da vítima e arrancar pedaços de carne humana a dentadas, para a devorar viva, ou retalhar seu corpo com uma serra elétrica, enquanto a vítima, ainda viva, grita e chora de medo, de dor, de desespero…
E, quase sempre, é nesse momento que os hormônios de Eliana começam a funcionar. Ela se identifica com o personagem a mercê do monstro e começa a suar frio, fica pálida, treme a ponto de ser possível ouvir seus dentes batendo, arregala os olhos, sente sua barriga gelar, sente seu sangue faltar apesar do coração bater mais rápido, e sempre sente uma forte vontade de urinar - mas nunca consegue tirar os olhos da cena para ir ao banheiro, ela fica petrificada, como que hipnotizada, acompanhando a cena incapaz de pensar em outra coisa e é inevitável, então, que perca o controle da bexiga, apesar do esforço que faz para segurar. A urina sai em jatos curtos e rápidos, com pouco intervalo entre eles, e uma mancha escura surge na calça de Eliana, na altura da xoxota e perto de onde termina a bunda e começa as coxas.
No começo, ela assistia aos filmes sentada no sofá, mas surgiu um problema: como explicar o mau cheiro do sofá, além disso ser desconfortável e desrespeitoso para as pessoas que irão se sentar depois? Eliana ainda lavava o sofá com desinfetantes, mas isso dava muito trabalho. Então, ela passou a se sentar no chão.
E, no chão, vendo os filmes, Eliana alternava várias posições, às vezes sentada, às vezes deitada, às vezes com as pernas estendidas, às vezes com as pernas recolhidas… mas sempre surge o momento de pânico, quando seu cérebro envia as sensações de ansiedade para o resto do corpo, os intestinos parecem se amarrarem, sua respiração se torna mais intensa, seus pelos se arrepiam, a bexiga se torna hiperativa, com várias contrações, como se estivesse muito cheia, e então Eliana não tem mais como se controlar. Sem querer, às vezes sem nem mesmo perceber, ela se alivia na roupa e no chão, e, com a mão, ela sente que o chão e os fundilhos de sua bermuda estão ensopados.
Quando enfim o filme acaba, Eliana sente um grande alívio e respira com mais calma, e geralmente olha para a poça que deixa no chão e para sua própria bermuda molhada com um sorrisinho de ironia.
- Ê, mijona! - Ela diz para si mesma, antes de pegar um pano de chão, um balde e um pouco de sabão em pó para limpar e secar o chão.
A bermuda e a calcinha ela põe no balde, que já tem água e sabão, antes de pôr para lavar. Graças a esses cuidados, ninguém, nem os pais, sabem que Eliana se urina de medo vendo os filmes de terror que adora. A emoção provocada por esses filmes, de certa forma, compensam o constrangimento. E também, de certa forma, o constrangimento de Eliana faz parte dessas emoções.
Depois do filme e da limpeza, é hora de dormir. O sono era outro problema. A mente e o corpo de Eliana ainda ficam, de certa forma, sob efeito das emoções despertadas pelo filme. Mesmo em seu sono, Eliana ainda sente o efeito da adrenalina que lhe sacode todo seu organismo e lhe dá, de certa forma, prazer. Então, costuma ter sonhos muito parecidos com os filmes que ela costuma assistir, e por isso ela, depois de ver um filme, molha a cama durante o sono.
Isso gerou um outro problema. Não é agradável ficar com o colchão, os lençóis, a coberta e a camisola molhados e fedendo. Além do trabalho para limpar e do trabalho ainda maior para esconder - afinal, Eliana não quer que as pessoas comentem que ela, aos vinte e dois anos, ainda faz xixi na cama. É claro que isso nunca acontece quando ela não vê um filme de terror, mas também é claro que muitos fofoqueiros, porque todo fofoqueiro gosta de exagerar a fofoca, iriam dizer que ela tem “acidentes” quase todas as noites, mesmo que não seja verdade.
Para resolver esse problema, Eliana teve uma ideia. Ela comprou uma rede de dormir, e conseguiu convencer seu pai a pôr ganchos para pendurar uma rede na garagem de sua casa, que tem muito espaço pouco utilizado. Então, aproveitando que está só em casa, Eliana monta sua rede na garagem e sempre dorme na rede depois de ver um filme.
Neste momento, Eliana, de pijama, está deitada na rede. Ela está sonhando que está num castelo cheio de zumbis. Os zumbis caçam a pobre moça pelos corredores, e Eliana está escondida por trás de uma cortina. Ela sabe que não pode ser descoberta, senão vai ser devorada. Nesse momento, uma grande, peluda e muito feia aranha desce por uma teia e passa perto do rosto de Eliana, que tem muito medo de aranhas. O grande inseto provoca em Eliana as fortes emoções que tanto mexem com o corpo da moça, e, no sonho, ela sente um líquido quente em suas coxas, molhando suas calças. Quando a aranha se afasta, Eliana olha para baixo e vê uma grande mancha escura em suas calças e uma poça malcheirosa ao redor de seus pés.
O que acontece no sonho também acontece na garagem, e Eliana, como sempre, depois de ver um filme, faz xixi na rede enquanto dorme. No momento em que ela molha as calças em seu sonho, uma mancha escura surge na parte de trás das calças de seu pijama, e logo a mancha se espalha pelas costas de seus pijamas e também pela rede. Mais um ou dois minutos, e um líquido fedorento começa a pingar da rede no chão da garagem, formando uma poça embaixo da rede. De manhã, Eliana acordará para ver, mais uma vez, seu pijama, a rede e o chão embaixo da rede molhados. Ela, também como sempre, olha para a rede, para o chão e para si mesma e balança a cabeça, em sinal de desaprovação. Ainda bem que não tem ninguém em casa. Ainda bem que ela é filha única e tem pais que viajam muito. Ainda bem que é mais fácil limpar uma rede e o chão da garagem do que um colchão. Assim, ninguém descobre seu segredo.
E enquanto Eliana passa um esfregão no chão da garagem, ela diz baixinho, para si mesma:
- Como é que pode, meu Deus, uma cavalona de vinte e dois anos que ainda mija na cama… ou na rede… Como é que pode, meu Deus?